paredes de panos amáveis
Não era engraçada, mas era uma casa.
Uma casa de infância e amor abafado.
Tinho cheiro específico, coisa guardada,
e o barulho do tic-tac fazia a menina
se sentir pequenininha, coisa abraçada
na solidão dos livros no armário.
As paredes das histórias dos adultos,
o chão de sinteco velho de dor calada,
as grades nas janelas do educá-la
- era tudo de amor em mafuá
a dar a idéia de ter nascido antecipada.
Cresceu a menina por tempo com mania de hora errada,
cismada em esconder à sombra suas fragilidades
aprendia o que entendia de maior naqueles adultos:
amar era dar estrutura. E cresceu por dentro sozinha.
Pois havia sempre um fio a escorrer de uma tristeza sem nome,
um desamparo de dar fome de alguma coisa insaciável
que o mundo de fora tratou rápido de roubar-lhe a bússola.
Mas se de muito serviram os livros, foi para entender de gente,
e fazerem companhia quando as paredes de dentro doíam.
Um dia, menina crescida, tic-tac da avó de herança
na parede de um corredor só dela, veio a imagem da casa da infância
mais as vozes adultas, o barulho silencioso da memória
de uma solidão não dita para ser de uma alegria dada.
Não sabe ela como foi que tudo achou outros lugares
e suas paredes mudaram de idéia de serem duras, mas um mafuá
de adultices meninas sugeriam um fio de livro:
tentaram-lhe a maior da estrutura, mas ela seria somente o que era,
casa de amor em abraço, sem vidro na sensibilidade do telhado.