Uma legenda em um "aff"

"Pois certas sensações deliciosas há das quais o indefinido não exclui a intensidade; e ponta mais aguçada não há do que aquela do Infinito"*

Margeando a orla, sentada na pedra, um pequeno caderno de bolso silenciado sobre a perna. Há apenas uma surtez humaníssima. Render-se a si. A força do mar na murada é da doçura permissiva do tempo. Aonde se vai em uma cidade aboletada, se toda vitrine em manchete é desrespeitosa à leveza?

Em um ponto, o devaneio sozinho é solto feito barco pesqueiro: estará como a maré para essa querência, essas mãos de lápis? Impulso infantil de esconder Pequenos Poemas em Prosa dos olhos, ninguém escapa do que leva dentro, e o tanto que se esvazia de alma, é o tanto de engarrafamento no labirinto em consequência.

Às vezes não há palavra que se encaixe, há apenas sentimento. Quando a simplicidade rebusca em looping nonsense, reticências...

Em outro ponto, meia dúzia de estudantes com papéis sobre a perna desenham uma diferente mesma imagem. Às costas deles, uma cabeça branca com ar de mestre deita uma docilidade dos olhos sobre seus ensaios. O silêncio é o silêncio em qualquer ângulo, não há leste... apenas uma busca de divindade de braços abertos.

A maldição não é ter nascido com poros de arte. A maldição é a genética da sociedade.

"E agora a profundeza do céu me consterna; sua limpidez me exaspera. A insensibilidade do mar, a imutabilidade do espetáculo me revoltam... Ah! Será preciso penar eternamente, ou o belo eternamente evitar? Natureza, feiticeira sem piedade, rival sempre vitoriosa, me deixe! Pare de tentar o meu orgulho e meus desejos! O estudo do belo é um duelo em que o artista grita de pavor antes de ser vencido."*

*Fragmentos de Baudelaire, em Pequenos Poemas em Prosa

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