Mar e Tempo, Tempo e Mar
O mar tem rolo com o tempo. Muda tudo a todo momento, a grande barriga da vida no mundo. O mar, no entre-tempos, ou quebra, ou cura, não deixa mudo o som de nenhum sentimento. O tempo carrega o rochoso do sofrimento, o mar guarda a pérola. O tempo calcifica os intentos, reboleia os ciclos, marca perdas, festeja nascimentos. No sóbrio ziguezagueado do seu tictac, a onda leva e trás as oportunidades. Quem nada? O que naufraga? No mais fundo da água salgada a psiquê baleia encanto e transbordamento. Quero ver colocar na régua desejo e inconsciente. Quero ver provar como pode uma maré ser leve. A dobra densa da água eleva o corpo que entrega, que é peixe seco no sal do tempo.
O tempo tem tesão com o mar. Por isso se manifesta em areia. Quer sentir suas dobras , quer deixar que enrole como cachos e curvas e peitos e bundas. Se faz de cama para a água lençolar. Quer mais que molhe e derrame e se entorne. O mar se funde no tempo, o tempo se funde no mar, no emaranhado do horizonte rarefeito da maresia do interpenetramento.
Mar e tempo navegam a perfeita imperfeição dos enlaçamentos.