por muito pouco - ou, o ilusório das coisas
Por muito pouco se escolhe as margens. Por muito pouco se deixa à margem. Por muito pouco prefere-se a linguagem do espetáculo, os cenários, as imagens. Por muito pouco portas são rejeitadas, e janelas seguem fechadas pintadas de abertas. Por muito pouco o artificial poupa o trabalho. Por muito pouco desertos e abismos são criados entre pessoas. Por muito pouco o valor das coisas é pixado, o medo, a raiva e a tristeza imperam. Por muito pouco os sentidos subvertem-se feito publicidade. Por muito pouco se exige do outro, feito imagem estampada na capa entorpecendo o espelho. Por muito, muito pouco, as referências se distorcem e a confusão toma o tráfego das trocas. Por muito pouco, pequenos abandonos. Por muito pouco, grandes personagens. Por muito pouco o poder parece glória e pula feito bola de ping pong. Por muito pouco diminui-se o outro, e se exclui, e se distancia. Por muito pouco se incapacita o outro por se ver impotente. Por muito pouco aponta-se faca, se esquece da própria parte, e invalida-se o olhar ao todo.
Batatas quentes fazem o somatório do caos, junto aos silêncios, as ausências, os consentimentos à escuridão.
Fácil, sempre mais fácil a legenda da irresponsabilidade, tão discrepante, tão dissoante da consciência... escolhida por muito pouco... mas caro é o peso ao ego que escolhe os poucos, e nele, grande é a solidão.