alcances

Indicou-lhe um lugar no alto de uma montanha, entre espessas nuvens de tempestade. Ao pé de uma única árvore, mais nada. Era alto, sabia, embora não visse nada abaixo. Disse-lhe:

- Persista aqui, honre tua parte, coragem. - e deixou-lhe, mais nada.

Era como uma criança tentando sozinha um dever de casa, e nada mais a vista alcançava, nada de mirabolante o coração alcançava, nada de elocubrante a mente alcançava.

Observou a tempestade, a dança de de repentes dos raios, as nuvens cinzas como que sugerindo um teto baixo, a imprevisibilidade, a inconstância de tudo descompassada.

Fechou os olhos. Nenhuma gota poderia reter, nenhuma trovoada poderia prever, nada . Silenciou em si o temporal a fora. Colocou a atenção em seus próprios sons, como quem tenta por ousadia afinar a alma, afinar-se. Silenciou mais um tanto. E era como se a tempestade se aproximasse de suas próprias intempéries, como se a água se embaralhase e dissolvesse seus medos, como se se tornasse gêmea da firmeza da árvore e de nada mais precisasse. Estava entregue, e era como um feto. Acontecesse o que acontecesse estava ali, nascendo, re-nascendo, enraizada sem que perdesse a liberdade, alforriada de qualquer coisa aquém montanha.

Sentiu um sol abrindo, mas escolheu ver com outros olhos, sem que precisasse abri-los. Agora era descobrir como que voava. Mais nada.

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