A Libélula e o Vagalume

dedofloranonovo2

(Uma história de ano velho e ano novo - para o adulto que se permitir)

Era uma vez... sim, vou começar a te contar uma história com o ar da vez que era; pois se de um lado o lúdico salva, de outro uma fantasia só pode ser destecida dentro de seu próprio bordado. Então, era uma vez, nas terras de um jardim de bambus, há mais de década e mais alguma coisa atrás...

Uma libélula cheia de meninices, perdida do reflexo das águas, corria sem fio de meada atrás da luz de uma poesia pelo bambuzal. Distante que estava, havendo fora daquele verde um extenso raio de deserto, muito pouco sobrevoava de verdadeiro, precisando noite e dia se abastecer da força da fantasia.  E foi ali, naquele tempo que já não se habita mais, que pousou por encontro os olhos em um vagalume.

O admirava em sua natureza de luz na escuridão, na serelepeza de ser livre canto a canto, jamais permitindo ser preso pelos golpes da aridez do deserto.

Bonito que eram na delicadeza das diferenças, piscava ele para ela, alegrava ela as asas para ele...

E dançaram entre asas. Dançaram... na música bonita de serem coisas vivas, na dança de desfazer solidão (pense... que esquisita a língua de uma libélula e de um vagalume, como estranhos eram para o resto do mundo).

Mas o mundo, mundo que é, recebeu um golpe de vento, e para diferentes caminhos  além bambuzal foram lançados o vagalume e a libélula. Tanto de andança de cada, e a tal ponto, que se parar agora para te contar tudo que andaram afastados, talvez se cansem as palavras e os olhos. Até anos e anos e anos e anos passados...

Quando a libélula crescida, às portas de uma casa de poesia, emagrecida de vitalidade pelo tempo, mas começando a descobrir seu caminho às águas, OPS!, reencontrou o vagalume.

Ele, bonito que só, mas só que só de escuridão, iluminou a ela tudo que não se perde de natureza quando a busca é verdadeira. Ela, tonta que só, com tudo que ele piscava, fugia sem querer fugir, batia as asas quando queria se fazer piscar a ele.

E e mas... dançaram, dançaram mesmo assim, dançaram na sinfonia dos sopros dos encontros.

E e mas... no risco de um vôo alto de dança sem solidão ela o feriu.

O problema talvez fosse as nuvens de fantasia, ou as cascas de medo sobre as asas empoeiradas, ou mesmo o mistério que encobre o segundo entre luzes.

O que aconteceu, verdade seja contada  mesmo que já tenha sido uma vez, é que ela um dia estufou o peito de novas coragens, e já sabendo o caminho ao jardim dele, levou nas asas o pedido de perdão. Nuvens desfeitas, coração desbrumado, pousou os olhos no vagalume como jamais acreditaria o encontrar.

Ele empoeirado de aridez, entre nuvens congeladas, com o coração deserto de escuridão. Ela miúda frente a tudo, com as asas delicadas, não se via mais em reflexo de luz dele.

E desdançaram na música silenciosa dos desencontros.

Às portas de um tempo novo, nesse tempo de agora, posso te contar de uma libélula, que liberta dos labirintos maciços das ilusões, dá rasantes sobre as águas... e olha o reflexo solar com o desejo de luz sobre a luz de um vagalume.

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