A Parede das Realizações
Já passara por cima diversas cores, e no engano do não lixar, a preguiça sobrepunha espessas camadas, até os olhos enxergarem cansaço e as mãos pulsarem medo dos estragos. Um fio de palavra conduziu a pausar e respirar por um segundo observando a parede. Malditas exigências brutas de massas!, vinha à cabeça. Mas o fio de palavra ouvida-guardada pedia que melhor observasse. Contemplando a própria respiração, soprou fora os pensamentos duros, e feito quem talha com os sentidos viu a parede completamente branca.
Um espelho! Um espelho! Por deuses! Como foi que inventei tanta tinta de desejo não-verdadeiro?!
Como núvem que dissolve, uma clareza vertical decodificava a parede em horizonte. Como quem entende ao natural, sem custo penoso de pensar, estava ali, feito quadro pendurado, o fio de entendimento que sempre lhe escorregara. Sentiu precisar reter aquilo dentro, encaixar corpo e sentido, vivência com sentimento.
A parede das realizações só poderia mesmo ter seus andaimes no jardim interno. O norte de verdadeiro caminhava para aquela palavrinha coerência, que tanto gostava, e que no impulso de segurar corriqueiramente quebrava. Pois vinha adornando sua parede como se fosse o muro que resguarda um castelo, com projeções das mais velhas-modernas tecnologias.
Mas a parede das realizações tem por essência ser alicerce e espelho. E naquele momento o reconhecimento da única que verdadeiramente lhe cabe às feituras...
Os tijolos da sua não eram de barro. São feitos de sementes.