Retalhar o ler como convém 1
Os dedos trêmulos de noite. O inverno e sua seca na boca. Non atos.
O mistério do não querer entender. O ver, inevitável, da falta de ausência clara.
Um livro há de forçar a ler o que já está ali, suspenso, escrito em si sem dizer.
Ninguém escapa, solidão é silêncio de sentido em qualquer gente.
"A mulher e a criança são as primeiras que desistem de afundar navios."
(Cartilha da cura)*
A batalha é dentro. O inimigo vence no não estar. Desterro do sentimento.
Sem pátria os olhos repousam sem rota. Milagre algum se opera em esperas.
A vitória é a não vitória e a não derrota. Na ausência não há querer que impere.
"é sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço"
(Recuperação da adolescência)*
Sem deus e sem purgatório ficamos iguais. Sem fala e sem legenda, sem ser.Mudez devora em excessismos. A infância da língua não saliva. Temps estar.O making off dos desnudos burla a censura, nada fica a quem não fica. Fica.
"Não quero mais a fúria da verdade."
(p.106)*
Uma loucura mora na sanidade do desescolher.
A teus pés morre a morte que não me morre.
"Estou no meio da cena, entre quem adoro e quem me adora"
(p.107)*
* Fragmentos de A Teus Pés, de Ana Cristina Cesar