Um gole de realidade não mata ninguém
Gira a vida na roleta
entre o que esgarça os quereres
e o que amacia desafinos.
Toda dor pesa no olho.
Nem toda flor acalma asperezas.
É de vidro o que não vulnerabiliza
e ao que quebra escorre entre dedos.
Quem se feriu ou imprimiu o ferir
não se reconhece nas sutilezas.
Entre o que não se viveu que teria sido feliz
e o que se fez pelo desejo de sorrir,
a epiderme de um canto sozinho.
O vazio é o entornar dos ciclos,
a única música é o seguir
no gira gira gira das escolhas e colheitas.
Nem maldições nem encantamentos,
simples de amar e fácil de doer
o tom de quem rege faz curvas nos rios.
Todo cansaço tem um quê de desterro,
toda tez revela, todo silêncio comunica,
nem fortes, nem fracos,
nem grandes, nem pequenos,
somos a medida exata do que tivemos coragem e do que não tivemos.
Nenhuma primavera acontece sem enfrentamentos.