Canalha bom é o assumido

CANALHA BOM É O ASSUMIDO
( crônica da série: Entre Homens e Mulheres)

Em 1920, canalhice, aquela malandragem, aquele sabor machista, era aspecto de perfil dissimulado, sorrateiro. Através dele, o narcisismo frágil, o petisco quase sociopático de gerar engano como forma de conquistar e se nutrir, para depois se vangloriar da soberania do uso e do descarte. Mas o mundo girou, e gira, como gira! Na gira do mundo, um balanço de justiça propagado pela liberdade do feminino.


Pleno 2020, mulher nenhuma fica bem nessa mentira, nem se alonga com laços de fita vestindo cabeça de menina, a máscara do canalha dissimulado desbotou no tempo. Canalha bom é o assumido. E digo porque. É muito melhor a verdade, a escolha frente a verdade. Para quem quer apenas se divertir, o canalha assumido é o cara certo. Não vai dar trabalho de entendimento, nem de investimento, e isso para ambos os lados. Nenhum dos dois se desgastam, estão conscientes e com honestidade posicionados. Se divertem, e tudo passa. E para quem busca profundidade, vínculo, transformações através de compromisso, o caminho dignamente fica liberado. A mulher que quer aprofundar, não se perde no canalha assumido, não precisa sofrer de coração partido, e assim o homem que busca relacionamento, pode ser homem integralmente, não precisa esconder suas fragilidades, pode se desnudar, pode amadurecer no encontro. Ou seja, fica honesto dos homens para com as mulheres, dos homens para com os homens, e a mulher respeitada em sua liberdade de escolha.


Um século separa esses perfis. E toda vez que surge um homem de 1920 em 2020, soa como o brutamonte do tempo das cavernas. Quando frente a ele outros homens demodês o glorificam, abraçam o engano. Acham mesmo que todo esse narcisismo gera dano apenas às mulheres? Que engano! Quem não sabe se posicionar com honestidade, quem propaga mentira, quem age pela sombra, vai ser assim tanto com mulheres quanto com homens. Então, reciclando a malandragem, um romântico de panamá precisa é de terapia para se repaginar, largar esse Peter Pan mumificado, para vencer o ego embrutecido e ser mais coerente, que essa história de duas caras já perdeu o encanto faz tempo, não pontua. Afinal, já temos evolução o suficiente para saber que fazer o outro de bobo é só uma faceta de quem é viciado em se trair. A vida é a arte da coragem de se assumir, e quem come pelas beiradas não alcança o todo. O poder de gerar enganos não passa de uma projeção da toxidade dos autoenganos. Enfim, ou é uma coisa ou é outra, sem a covardia dos personagens. Um viva a 2020.

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CONTOTERAPIA - Ana Anda