É só um prato de afeto
Em um dia corrido de atendimentos, saio rápido na rua. Sou abordada por dois meninos vendendo bala, digo: não, obrigada. Um passo a frente, me ressoa pelas costas um grito:- É só um prato de comida!
Foi um dia incrível de pessoas de diversas idades trazendo aprendizados sobre suas dores emocionais, sobre suas carências, sobre suas sensações de "falta". As palavras do menino, junto a sua frustração e raiva, pareceram se encaixar nesse dia.Tomando o evento como uma alegoria da dor, quantas vezes esmolamos afeto? Quantas vezes nos vemos escassos de amor? Indignos de olhar? Quantas vezes gostaríamos tanto de uma acolhida, de um abraço, e caímos na cilada de esperar que nos chegue por uma pessoa específica? Quantas vezes teimamos em determinados relacionamentos que não podem nos dar o que buscamos? Quanta raiva já não sentimos com um desejo de um prato de afeto não vindo? Mas quanta vezes, também, não soubemos comunicar nossa disponibilidade ao afeto porque estamos habituados e displicentes em nossos formatos?Quem nunca chorou de raiva com um prato vazio que atire a primeira pedra. Quem nunca soube se comunicar, idem. Aceitemos isso, e vamos olhar por um outro ângulo: se nos vemos nesta posição é porque não nos reconhecemos no amor, nos sentimos à margem do amor. Como matar então essa fome, chamada baixa autoestima?Desconstruir a visão negativa que temos de nós mesmos e assumirmos novas escolhas com base em nossas qualidades podem ser um belo acerto de rota.
