Nós que aqui ficamos, por nós nos transformamos.

A vida é um cadência de saltos, sobressaltos, reposicionamentos. Respiro longo e breve, suspiro profundo do agora. Uma sucessão finita de portas e janelas, que escolhemos quais abrir, quais que se fecham, por quais entramos. Logo ali, por garantia única de quem vive, o silêncio cardíaco que nos encerra e leva à balança, o que fizemos e o que "ganhamos".Há quem viva competindo com a vida, distribuindo pontapés e solavancos a seus ciclos. Há quem tema por demais seu rítmo respiratório e teime apnéias sobre seus convites. Entre os que querem devorar a vida e os que se julgam capazes de refreia-la, o medo comum de quem não se sente hábil para navegá-la."A vida é uma só companheiro", diria Vinícius. "Olha o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar", cantaria Paulinho. Fato é, a vida é de quem vive, e não há medida do correto no mundo que a possa abraçar. Se for olhar a vida como composição, só existe a harmonia que se escolhe redigir sobre o compasso do minuto na melodia do sentido.Quem não corre, e quem não controla, escolhe ser em si a vida, e se imprimir inúmeras e inusitadas releituras. Quem vive se transforma, e ajusta o barco sobre as tonalidades que melhores lhe tocam. Disperso da platéia e do aplauso, músico entregue a si mesmo em seus minutos, explode em som a beleza de que o tempo é único, e não se pausa ou se consome, apenas se vibra e se reharmoniza.Nós que aqui ficamos, nada mortos de sentidos, nos transformamos na pauta da vida.

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