Quando a porta não abre, não deixe as flores no capacho.
Há anos atrás em uma conversa com Vera Calvet, eu me encontrava diante de um aprendizado árduo. Estava mais do que frustrada, amarrotada, cansada sem soltar minhas resistências, a ponto de nem saber mais se estava disposta a aprender com o momento.Ela, com sua amorosa simplicidade, e seu hábito de dar atenção integralmente quando escuta, após meu desabafo tropeçado e desesperançoso, abriu o sorriso das palavras:- Cris, cuidar é uma conquista sua, isso é em você. Fluir é o seu aprendizado, se não há troca aqui ou ali, solte, vai na direção de onde a troca e o cuidar estejam disponíveis.Incrível como temos o hábito de controlar, queremos reciprocidade, ao invés de nos deixarmos imar para onde há. Nunca me esqueci desse dia, lembro de cada movimento dela, do olhar, da ordem das palavras em costura. Todas as vezes que achei que havia de fato entendido, descobri logo em seguida que podia entender algo mais. E foi mesmo árduo. Primeiro pela minha personalidade de não soltar o osso. Segundo, pelas expectativas as quais era apegada. Terceiro, porque era uma disciplina mental ninja necessária para aceitar, soltar, sentir a direção e ir. Nesse processo, ouvi:- Quando não puder aceitar, aceite sua não aceitação, abra com você a energia necessária, e se permita fluir.Mais do que árduo, áspero, porque somos mesmo cabeça dura, passamos dos próprios limites por medo ou culpa. E, para piorar, nos colocamos cegamente em posições desastrosas para nós mesmos.Mas esse processo me trouxe a oportunidade de entender na pele alguma coisa sobre amor próprio e gratidão. Recentemente, alguém por quem tenho bastante carinho me pareceu enrolado em um aprendizado semelhante. Então fica aqui, como diria Vera Calvet, um "band-aid", com os meus próprios bordados:Quando a porta não abre, não deixe as flores no capacho: reconheça a beleza das suas pétalas, e olha para frente, ou quem sabe para o lado, o ímã tem a métrica certa.😉