infanto-alforrias
Pedro cresceu ouvindo: ah, mas ele gosta tanto de você, não faça assim com ele. Maria, toda vez que chiava, ouvia: você tem que ser boazinha, ele tem problemas. João, toda vez que chorava, mandavam ele tomar vergonha na cara. Sandra, um dia tentou pegar uma borboleta, e sem querer lhe arrancou a asa. Vitor, queria, e muito, ser pirata, lhe diziam: mas isso é porcaria inventada. Ana, amava perfumes, e para que não os misturasse, lhe escondiam todos os frascos. Renato ouvia noite e dia, o gênio matemático, a reencarnação de Einstein que seria. Joana tinha só uma palavra em seu dicionário: cuidado, cuidado, cuidado.
Pedro, Maria, João, Sandra, Vitor, Ana, Renato, Joana, andaram melindrados anos a fio por labirintos, matavam leão todo dia, dormiam se sentindo sozinhos. Não entendiam as faltas que colhiam, se sentiam as próprias falhas do caminho, se viam culpados de algo que eles próprios não criam.
- Mas sempre tem a hora do basta, do não caber mais na lata, do lutar por si assumindo os riscos. A hora das paredes serem demolidas, do labirinto virar passado, passagem, ser desmitificado, desconstruído, demolido, absolvição dos sentidos.
Pedro o fez dizendo não. Maria, escolhendo. João, discordando. Sandra foi estudar biologia. Vitor, virou desenhista. Ana, perfumista. Renato jogou fora os títulos que nunca quis. Joana virou alpinista, quebou record, ganhou medalha.
Todos eles, descobriram que podiam. Colocaram as falhas e culpas em uma mala, despacharam para o lixo. Pedro, Maria, João, Sandra, Vitor, Ana, Renato, Joana, descobriram nisso que amor não é nada do que lhe ensinaram, que alegria não é instante, que à vida não esmolavam. Pedro, Maria, João, Sandra, Vitor, Ana, Renato, Joana, não estavam no mundo para serem à parte, eles o faziam.